porra.

setembro 6, 2013

buscar nalguma fé ou na ciência
por algo que sustente a sua vida
que negue o pensamento suicida
desta inutilidade da existência

procura para ter clarividência
da vida que se esvai, foi esquecida
em luz que a muito tempo é perecida
jamais que deus algum nos deu clemência

o nada que restou depois do tudo
será tudo o que temos por herança
apenas seu escuro espaço mudo

feliz é a ignorância da criança
pois quem viu ao destino cru, desnudo
esquece de uma vez toda a esperança.

julho 18, 2013

sem ódio eu não tenho posição
política. sem ódio eu não tenho
nenhuma crença ou fé, religião
sem ódio, sem franzir meu velho cenho
não penso mais em pátria ou nação
sem ódio jamais vou e jamais venho
não torço mais pro futebol, então
e nem em nada mais emprego empenho
sem ódio eu não tenho um coração
sem ódio eu não escrevo e nem desenho
sem ódio não encontro mais razão
portanto a ele eu nunca, pois, desdenho
e dele espero sempre vir meu pão
assado pelo fogo de seu lenho.

síndrome de rett

julho 12, 2013

por conta de sofrer uma fratura
penei num hospital uma semana
ouvi gemidos como os de tortura
com nome: juliana de sant’anna

num quarto, enjeitada a criatura
oferecendo um medo, muito engana
perturba, até enlouquece quem atura
mas, outras gentes, ela nos irmana

por quê? eu pude ver em seu olhar
cantava e não chorava, estava plena
na estranha melodia (lembra ao mar?)

na igreja em minha mente, cantilena
perfeita no momento de pensar
na escolha: se me cura, se envenena.

abril 30, 2013

embora atribulado, vivo bem
em busca por, espero, o meu destino
jamais invejarei àquele quem
orgulha-se de ter um melhor tino

verdades vindo à vida vão e vem
talvez meu coração, ou o intestino
respondam às questões que sou refém
malogram meu cantar que desafino

por hora, satisfeito e também calmo
fazendo tão somente o qu’eu puder
assim como david cantando o salmo

alguém aí, mais douto, se souber
explique a realidade, palmo a palmo
e seja o que seu deus, ou eu, quiser.

mendigos, nóias, putas

março 24, 2013

mendigos, nóias, putas tem poesia
perdidos, loucos – mansos ou furiosos
o santo que comete apostasia
bandidos – não notórios ou famosos

também a encontrei em coisas frias
navalhas e punhais com seus remorsos
mas nunca a encontrei nas companhias
empresas ou nas firmas dos garbosos

não sei dizer porquê do impeditivo
talvez porque apenas não precisem
talvez porque lhes seja algo nocivo

melhor! que meus poemas realizem
o sórdido esperado, vivo, ativo
do falso e do fingido eles prescindem.

‘metodologia de trabalho aplicada às condições mercantis contemporâneas’

fevereiro 25, 2013

fechei-me em pensamentos devaneios
selada com betume é toda a fresta
procuro neste escuro antigos veios
em meio a tanta coisa que não presta

não tenho pra escrever melhores meios
do que com meus terrores fazer festa
na qual eu dos pecados sugo os seios
não sei fora daqui o que me resta

talvez me reste a folha rabiscada
garranchos garatujas mal escritas
não deixam de também ser uma estrada

calçada por palavras algo aflitas
são pedras de algum tipo de intifada
que vão talvez além de quaisquer gritas.

fevereiro 24, 2013

se foi a poesia dos meus dedos
melhor teria sido a luz dos olhos
presentes, retumbantes, os meus medos
ungidos com mais sórdidos dos óleos

emaranhados, ódios e segredos
nas carnes sinto os golpes de mil relhos
os sonos mais profundos são degredos
angústias refletidas: mil espelhos

terei o meu caminho nestas vias?
jamais tenho a ciência do que eu quero
terei prazer – será? – nas agonias?

divirto-me, talvez neste entrevero
e cada qual que tenha as alegrias
prefiro – eu escolhi – o desespero.

medos & persas.

dezembro 12, 2012

o medo espreita em tudo
e torna fraco quem
sucumbe, pois faz mudo
o peito que se tem

e mesmo o mais raçudo
o sente vir, também
se torna, então, miúdo
recebe só o desdém

o medo faz escravos
o medo faz senhores
é fel sorvido em favos

é fonte dos torpores
que dobram aos mais bravos
e roubam nossas cores.

novembro 24, 2012

dedicado a emmanuelle, ‘a gata do amor’:

amar jamais fez bem algum pra mim
amando fui escravo e penitente
amado fui carrasco e impudente
amar me trouxe o não em vez do sim

mas sei que a culpa é minha, ser ruim
faz parte de quem sou, embora intente
tornar-me algo melhor e ser mais gente
o amor é mais um meio do que um fim

mas guardo as esperanças em mim mesmo
almejo que eu aprenda um outro amor
ainda que o aprender se faça a esmo

então,’pra que rimar amor com dor?’
dizia outro poeta, no qual cismo
daí, pra rima, eu lhe direi: ‘condor’.

alexandrinos…

setembro 29, 2012

o tempo inexorável vai contrário a mim
a minha mãe, a terra, pai, o firmamento
me guiam tal e qual fumaça negra ao vento
que vê no turbilhão o próprio e certo fim

apenas eu aceito e me conformo assim
embora tal processo possa ser mais lento
ou faça meu porvir ser muito mais violento
talvez veja o meu sangue se esvair carmim

mas no interregno dentre a conclusão e o agora
escreverei a tudo o que puder, quiser
destino algum, cruel, de fel, já me apavora

fortuna, foi um sábio quem te fez mulher
despreza cruelmente  àquele que te implora
entrega-te somente a quem bem te aprouver.